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Espiritualidade, Carnalidade e Humanidade

A palavra espiritualidade é ambígua: Um dos seus significados comuns é viver num espírito descarnado do corpo.

Está também ligada a uma ética de renúncia ou de um uso restritivo de todos os prazeres.

As religiões (nomeadamente a católica, são misóginas e defendem a renúncia do sexo para os seus sacerdotes, ou a sua redução a um ato ritualizado e pobre, para os seus praticantes.

O sentido comum da espiritualidade está associado a religiões em que os homens têm um claro predomínio: religião cristã, muçulmana, budista e crenças hindus, e em que os sacerdotes e as representações de Deus são do sexo masculino: Por exemplo, na igreja católica não se admitem papas mulheres e a autoridade máxima é masculina. Na religião muçulmana os homens podem ter várias mulheres e as mulheres podem ser lapidadas em caso de infidelidade. Nos costumes hindus são frequentes as violações, os casamentos arranjados, a impunidade dos violadores e assassinos de mulheres, só agora este estado de coisas começando a ser combatido.

Em nenhuma destas crenças, o sexo é levado a sério como meio de comunicação e de aproximação entre pessoas. Não se atribui nobreza aos casais, mas sim aos sacerdotes, homens, supostamente solteiros, ou casados com mulheres inferiores. Não existe nenhuma palavra oposta à espiritualidade que tenha dignidade ou significado. A única que existe é carnalidade, a quem eu tenho de dar um significado bem diverso do usual. À espiritualidade eu tenho de opor a palavra carnalidade, no sentido definido a seguir, onde, em vez de um uso comedido do prazer, eu prefiro um uso extensivo do prazer.

No meu conceito, a mulher, embora muito diferente, tem tanto valor como o homem, e deve ter representação em todos os órgão sociais que ele frequenta (e para fazer valer isso existem mesmo as regras da proporcionalidade).

Ser casado (uso a palavra casado em sentido extensivo, como uma união de facto bem-sucedida), em condições de igualdade é melhor do que ser solteiro, e o sexo com igualdade é uma das formas superiores de comunicação e de relações humanas. É muito mais complexo e melhor do que qualquer abstinência sexual, ou consagração, e merece mais respeito e apoio social.

A palavra carnalidade, no meu conceito, não é contra a espiritualidade, mas sim trata-se de um espírito aliado à carne, relacionado com a carne. Também não será contra a perspetiva de um poder superior, mas, quando se acredita num poder superior, será um poder que não tem uma atitude de renúncia, mas sim de simpatia com o que são os mais saudáveis prazeres da vida.

Cada pessoa tem a sua constelação única de tendências ou pulsões. Uns serão mais espirituais, outros tenderão mas para as coisas práticas da vida: espiritualidade e carnalidade pode muito bem coexistir e entender-se com o conceito de humanidade.

Outra palavra semelhante é o heroísmo, em que se defendem os outros com renúncia a tudo o que nos agarra à nossa vida.

Neste sentido está completamente correta e é útil socialmente, mas nós precisamos de uma sociedade com muitos heróis potenciais, mas com o mínimo de heróis de facto (que já passaram ao ato) possível.

​Um herói que já tenha passado ao ato é sempre uma pessoa que foi sacrificada por uma causa. Pode ter ficado traumatizada e doente, e acho que nós, sociedade, não temos o direito de fabricar heróis, de solicitar heróis, ou de ajudar a prejudicar pessoas potencialmente heroicas, para o nosso bem. Devemos agradecer-lhes do fundo do nosso coração, mas sim poupá-los, e não fazer deles e dos suas atos uma espécie de estratégia social de salvação.

Cristo deixou-se matar por puro amor a um pai severo, cego e surdo ao seu sofrimento, e a uma humanidade que não lhe correspondeu, nem em nobreza nem em heroísmo.

O seu sacrifício deu uma novo vigor à bondade humana, mas não impediu os enormes assassinatos, catástrofes e degradação das épocas posteriores Tentemos evitar os sacrifícios de novos Cristos, e não transformar os nossos heróis potenciais em novas vítimas.

Devemos implementar o valor das boas relações, de bondade e do amor, mas também as ações simples da vida, que nos enriquecem e nos dão prazer e poder, não prejudicando as outras pessoas nem o meio ambiente.

No microcosmos das comunidades terapêuticas com psicoterapia emocional, nos grupos de psicoterapia emocional e bonding e noutros grupos terapêuticos, tornou-se possível um progresso nas relações humanas e na coesão social. (Domingos Neto e Nuno Melo) Procuremos encontrar os processos para implementar o avanço nestes microcosmos, para se propagarem a toda a humanidade.

Neste sentido, a psicoterapia emocional e bonding continua a ser uma psicoterapia transgressora, porque contem técnicas a favor das pessoas, que não são completamente aceites socialmente, como o os abraços prolongados e o toque entre membros do grupo e entre estes e o seu terapeuta.

Saibamos continuar a enfrentar estas idiossincrasias culturais e aumentar, para toda a sociedade, os avanços que se conseguem no microcosmos dos nossos grupos terapêuticos. É uma tarefa de investigação e desenvolvimento, muito difícil, mas que vale a pena.


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